segunda-feira, 31 de março de 2008

Meu namorado, o conde

A família sempre o achou meio frio, era de poucas palavras e não tinha a prática do abraço e beijo estalado como cumprimento. Comigo era diferente, mas às vezes eu me deparava com o braço dele fazendo carinho em mim, com a minha própria mão me acariciando.

Depois tudo mudou, ele entrou numa depressão tão profunda que do seu quarto, não saia mais. Em minha casa, ele “estava comigo” se eu ficasse na cozinha e ele na sala. Assim se dava o nosso relacionamento, um tanto frio, eu diria agora.

Não posso negar que o preto lhe caía bem, parecia muito bem vestido, arrumado. Outra coisa que a família não gostava: tinha cara de pobre, eu talvez diria: índio. O cabelo era melhor que o meu. Eu o amava intensamente, mal sabia que estava morto. Eu não tinha vergonha de passar com ele para cima e para baixo por causa disso. Botá-lo no carro e ir até o bairro vizinho, falar da importância das flores, das folhas e o despertar da vida delas sobre a terra.

Como deixá-lo? Não praticava eu a necrofilia, porém temia a chegada desse dia. O desgraçado me agradava com aqueles olhos moribundos e com aquela mão gélida, sempre úmida. O mais estranho era vê-lo repousar, mas cada um tem suas manias... Deitava em sua cama de madeira e lá se fechava, até a noite voltar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Jasmin

________Você está meio distraída hoje - disse ele.
_________Ah, é? Não percebi. - Respondeu com frieza e alucinação por detrás daqueles olhos vagos que se apoiavam em terrenos escuramente mortos, um marrom feio, podre; exatamente como a cor dos olhos dela.
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Não quero ver nem pintado de outro.
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________Faltava o resto das palavras, contudo ela sentou e não se levantou para mais nada. Trabalhou das 13 às 19h se achando coitada, porque não conhecia meninas da sua idade que fizesem o mesmo. Parou. Considerava-se menina e, ele não audaciava a ir além, dizia: "mulherzinha". Ela franzia a testa ao ouvir, mas depois ingeria imediatamente. Engoliu. Julgava tanto conhecê-la por ter visto crescer, que fechou os olhos quando ela passou dos seus lisos fios de cabelo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

sem título

Hoje acordei como ontem, já que a dor de cabeça não foi embora com a alma.

Ontem não acordei, pois não dormi.

_____________________________________mais tarde um homem se jogou nu da janela do seu quarto. Não agüentou sua nebulosa consciência.

Quando? Eu li em algum lugar e me aterrorizou mais: “A mulher que matou os peixes.” Afirmo, o terror é um grande gênero para crianças. Isso eu odeio.

Amanhã Sabrina se senterá a minha frente de saia, eu a desafiarei dizendo: “Estou vendo sua calcinha”. Ela, furtiva, retruncará: “Qual é a cor?” O pior é que ouvi ela reclamando para Joice: “Ele vem me chamar de Amanda ou Cláudia, mas meu nome é Ana Paula!”