terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Mulheres Turbinadas

____O verdadeiro problema de mulheres no trânsito é o sentimento. Penso que é difícil interiorizar todos aqueles mecanismos sem pensar no mocinho apressado que vem logo atrás ou visualizar que vão fazer competição na hora que o sinal abrir. As mulheres, por extinto, sabem dessas coisas. Aliás, será que os cálculos estão errados ou realmente as mulheres estão entre os pequenos números nos envolvimentos de acidentes de trânsito?!

____Meu tio disse que mulher não precisa se preocupar se algo de inesperado acontecer, sempre terá um "bobão" passando e oferecerá ajudar. É incrível quando isso se comprova. A minha mãe é da opinião que é lindo ver mulher dirigindo, mostra independência e coragem, mas não com ela. Até tirou a carteira, certa vez, mas esse negócio de embreagem e mudar a marcha não fazia sentido.

____Eu não acho simples nem difícil, só essa coisa de "interiorizar mecanismos" que realmente não é comigo. Primeira, acelera, embreagem, segunda; até vai, e o resto? Eu ainda não sou vidente para adivinhar que o maluco que vem do outro lado bêbado vai vir para cima da frente do meu carro ou que o cachorro não vai correr a tempo de chegar na calçada. É complicado, não impossível, coisa de outro mundo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

pobre de mim

____Chove na cidade e é verão. Não é uma simples chuva, é um dia chuvoso que veio do inverno para assustar turista. Deixo a minha janela aberta, a cortina fechada para fazer clima e eu ter a liberdade de sussurrar músicas e coisas para meu ouvido. Adoro mais quando eles vão embora.
____Porém tenho que sair para o trabalho, e no ponto de ônibus um velho moribundo mantém o lugar. Ele tenta falar comigo e eu finjo que não ouvi. Ele persiste com a mesma devoção em que passa os dias, com canelas manchadas pelo tempo marcadas pela meia gasta. Ele só quer saber as horas, espera o ônibus como eu. Então quando chega eu confirmo com ele se é esse mesmo, ele grunhe e entra. Eu vou logo atrás, não se importa com a minha presença e vira a cara quando se senta.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

crianças e cupins

____Ainda hoje concluo que criança é o ser mais cruel da face da Terra. Não pretendia ser tão generalista, mas ainda não encontrei algo mais terrível. Lembro de dias, correndo ao redor do abacateiro na casa de meu vô e, ao mesmo tempo, fugindo de Juliana. Era mais velha já, e mesmo assim, mais piolhenta. Bem, cabelo não me faltou nunca, e nessa época, nem piolho.
____Pior que cultivar os piolhos dela na minha cabeleira era passar as tardes com minha prima, todo dia era um desafio novo. Num deles, Juliana me pediu para comer cupim! Atrás da casa do meu vô tinha uma oficina onde meu padrinho moldava o gesso do serviço dele, como as estantes eram de madeira velha, os cupins tinham muito trabalho e no verão era aquela sujeirada amarela.
____Por isso hoje lembrei tanto de Juliana, meus armários da cozinhas estão podres, não relatando a pior fase que é a de acasalamento dos bichinhos, posso nem imaginar as crianças-cupins, ou cupins-crianças, desprezíveis seres. Penso se todo aquela sujeira teria alguma utilidade, é faz tempo que não vejo mais Juliana, assuntos de família.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

do lado de dentro

____Acorda, levanta cedo para não dizer que foi tarde. Não lava o rosto e se arrasta pelos cômodos da casa. Não abre as janelas, não come, bebe um copo d’água. Por que vive tão infeliz? O verão chama do lado de fora e a coriza escorre. Conta: um cachorro, um gato, e um peixe. Cadê o peixe?! Olha embaixo da cama e encontra as havainas dele.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

"Não estranho muito quando sei que um sujeito a quem jamais fiz nenhum mal está fazendo força contra mim em algum setor. Não me acho simpático, e suponho que, se eu conhecesse outro sujeito igual a mim, nossas relações nunca chegariam a ser grande coisa."

(Rubem Braga - Pessoas que Acontecem)