quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Foi difícil imaginar

Foi difícil imaginar-se com 30, pois bem, 30! Antes 30 que 40, não, não, não. Queria ter 20, talvez 15. Contou certo mesmo: 30.

Uma hora iam chegar, dizia a si mesma que sabia e, mentia, quando percebeu que faltava meia hora para ser despejada – achou que brincavam com ela e saiu de casa.

Eram trinta, todos com uma lembrança particular, com cores inconfundíveis; exceto daqueles últimos tempos, quando a diabete atacou a visão, mas tinham cheiro, jeito e um carinho diferente. Ao conhecer a sobrinha Júlia pensou que ia mudar, não precisava viver daquela maneira. Queria uma filha, não diria filho.

Voltou logo para casa e aos poucos foram se aproximando. A campainha toca. Não quer atender, já não gosta mais. Queria ter sido rica, conhecer Londres, dançar lambada. Era coxa. E, de propósito, foi quase se arrastando atender o chamado da porta.

- Pois não?

- Moça, eu sou da prefeitura. Quero que você entenda que não é por mal, eu sou pago para esse serviço, mas suas condições não são as melhores. Eu vivo atendendo aos chamados dos seus vizinhos, eles até entendem sua situação, mas vim destinado a tomar uma providência! A senhora pode escolher, fique com uns três, mais que isso não dá!

domingo, 17 de agosto de 2008

Memória compartilhada

Vamos brincar de faz-de-conta. Eu, ontem e, ainda hoje lembro o copo estilhaçando. Não vi aonde foram os cacos, havia poucas lâmpadas acesas, mas naqueles que refletiram luz, a cena trouxe um sorriso nervoso. Por um momento, pareceu que todos se alojaram ali, em monte, no mesmo pedaço de chão, mas hoje ao limpar, percebi que alguns deles chegaram próximos a mim. Muitos se desfizeram, transformaram-se fisicamente em outra coisa, porém foi o fundo que permaneceu copo, resto de copo, sobra de copo, base. Início de tudo, na verdade. Na parede azul, ficaram pingos secos de resto de bebida. Gotas.

Eu, ontem e, ainda hoje lembro que houve lágrimas, mas antes teve muito deboche e sarcasmo – típico. Lembro que havia bailarinas desequilibradas e aquelas outras com as costas deformadas de tanto esforço físico. Sei que existe gente deformada e peixes que vivem com fogo.

Acendo um incenso, não gosto de fumaça, odeio cheiro de cigarro, gosto, mão. Gosto mais dos pés, mesmo que seja apertado dentro de uma sapatilha. É uma pena, porque isso tudo vai parecer diário, mas não é. Foi ontem e, ainda hoje não esqueci.

domingo, 10 de agosto de 2008

teste 1

Ontem escrevi de novo para você. Lápis, papel e lixo. Porque depois que viajou, nada parece a sua altura cós-mo-po-li-ta! E não há nenhum Augusto que se compare a isto. Na verdade, me fez pensar o quanto conheço de você.

Nada!

Aquela foto com os cabelos soltos, o seu nome, talvez. Fale o que você sabe... e o aluno escreve que não sabe. Ganha nota mesmo assim. A árvore que pára o trânsito desmaiada, não importa. Só aqueles que ficaram na fila, atinge. E eles dirão que você escreveu poesia, mas não passava de cartas nomeadas à uma Lady de nome inventado, que escrevia cartas, que nada escrevia. Aí ontem vieram com a proposta de escrever algo que não fosse para você. Eu tentei, tentei explicar que não sabia quem era você, mas eles não entenderam e riram da minha cara. Perguntei à Fernanda, mas também ela não é boa conselheira. Então fui atrás dele, uma ajuda talvez, eu dependo disso. E o seu czar escreveu: não sei. Por isso eu vim até aqui, tentar.