segunda-feira, 31 de março de 2008

Meu namorado, o conde

A família sempre o achou meio frio, era de poucas palavras e não tinha a prática do abraço e beijo estalado como cumprimento. Comigo era diferente, mas às vezes eu me deparava com o braço dele fazendo carinho em mim, com a minha própria mão me acariciando.

Depois tudo mudou, ele entrou numa depressão tão profunda que do seu quarto, não saia mais. Em minha casa, ele “estava comigo” se eu ficasse na cozinha e ele na sala. Assim se dava o nosso relacionamento, um tanto frio, eu diria agora.

Não posso negar que o preto lhe caía bem, parecia muito bem vestido, arrumado. Outra coisa que a família não gostava: tinha cara de pobre, eu talvez diria: índio. O cabelo era melhor que o meu. Eu o amava intensamente, mal sabia que estava morto. Eu não tinha vergonha de passar com ele para cima e para baixo por causa disso. Botá-lo no carro e ir até o bairro vizinho, falar da importância das flores, das folhas e o despertar da vida delas sobre a terra.

Como deixá-lo? Não praticava eu a necrofilia, porém temia a chegada desse dia. O desgraçado me agradava com aqueles olhos moribundos e com aquela mão gélida, sempre úmida. O mais estranho era vê-lo repousar, mas cada um tem suas manias... Deitava em sua cama de madeira e lá se fechava, até a noite voltar.

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